13 de setembro de 2010

Os ganchos de "A Cura"


O último episódio de “A Cura”  (com Selton Mello como protagonista) terminou de maneira eletrizante, com a inesperada aparição do personagem de Juca de Oliveira (Otto), vivo. A surpresa teve a assinatura de João Emanuel Carneiro (coautor da série com Marcos Bernstein). Ele usava este expediente — do suspense — com muita frequência em “A Favorita”. Claro que os ganchos são um velho truque de qualquer novelista que se preze, mas o desafio ficou muito maior nos últimos anos. Treinado pelo ritmo acelerado dos seriados americanos, o público já não se deixa enganar pelas “barrigas”. Nem por traminhas bobinhas, do tipo engana-trouxa.
No caso de “A Cura”, os riscos são ainda maiores, já que o programa é semanal. Se por um lado uma produção mais demorada ganha em acabamento, o esforço para garantir a fidelidade da plateia é dobrado. A série vem lançando mão de um recurso ainda inédito na TV daqui, o da recapitulação de cenas já exibidas (não necessariamente no capítulo anterior). Ricardo Waddington, diretor-geral, faz um apanhado da ação passada e engaja o espectador de volta à trama. “Lost”, “Damages”, “24 horas”, e “Brothers & sisters” usavam este ardil. “Desperate housewives” também “reapresenta” suas historinhas, mas de uma maneira ainda mais original: através de uma narração no início e no fim dos episódios.

Vale ressalvar que, se “A Cura” bebeu no modelo americano — na periodicidade, nos ganchos caprichados e no resumo que abre os episódios — é também um programa com personalidade, regionalista, que reflete a atmosfera de Diamantina nos mínimos detalhes, inclusive na luz melancólica. Pena que vá acabar.
Por Patrícia Kogut, jornalista do jornal O Globo

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