Para que serve a televisão brasileira? Ela tem uma missão educativa? Uma função cultural? A discussão é antiga, tão velha quanto a própria TV, mas sempre ressurge quando algum programa de grande apelo, como é o caso agora do BBB 10, chama muito atenção, faz sucesso popular e leva pedradas da crítica por seu conteúdo de baixa qualidade. Boninho, diretor desta atração, não vende ilusões a respeito do tipo de programa que está fazendo: “Faço o BBB da forma que deve ser feita, popular, provocativo, apelativo. É pra pegar o povão, as rodas de conversas, de todas as classes e de dar audiência.” Ao olhar, porém, para o conjunto da grade da Globo, o diretor do BBB acha que a emissora poderia arriscar mais em programação de qualidade. “É líder absoluta, pode abusar se quiser”, alfineta, antes de corrigir. “Mas acho que tem feito um pouco”, diz, citando os programas “Dalva e Herivelto”, “Por toda Minha Vida” e “Memorial de Maria Moura”. Em resposta a um leitor no Twitter, que o questionou sobre a baixa qualidade do que assistimos no reality show, o diretor chegou a dizer: “É diversão, se quiser cultura faz um curso, arruma um grupo legal, faz faculdade, uma livraria…” Procurado, esclareceu o desabafo. “A resposta foi para um dos chatonildos de plantão sobre cultura no BBB.” Boninho garante não ser tão radical quanto sua mensagem no Twitter pode dar a entender. “Acho que entretenimento de qualidade tem espaço e deve ser colocado no ar”, diz: “Vamos lembrar da novela ‘Gabriela’, Concertos Internacionais, Festival Charlie Chaplin, ‘Helena’ (Machado de Assis) e outros produtos.” Na visão do diretor do BBB, existe espaço para programação de qualidade, “mais cultural, sofisticada, menos popular”. Mas há um problema, observa: “Só que isso depende da direção da empresa.” Cabe a ela, diz, tomar essa decisão: “Correr o risco de colocar algo mais sofisticado e jogar fora a audiência popular por ‘qualidade’.” No melhor dos mundos, acredita Boninho, é possível “arriscar e ter os dois resultados, boa audiência e passar algo mais ‘cultural’ para o espectador”. No caso da Globo, especificamente, cuja distância em relação aos concorrentes em termos de audiência ainda é relativamente grande, a possibilidade de arriscar poderia ser maior. “Perder um dia com um bom produto não mudaria nada ou faria a diferença”, defende. O diretor do BBB recorre a um episódio que vivenciou em 1995 e que envolve também seu pai, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, então vice-presidente de Operações da Rede Globo. “Sem ser tão profundo, quando fiz o primeiro show dos Rolling Stones no Brasil, 20 minutos antes de entrar no ar, o Boni me ligou e determinou fazer sem intervalos. Disse que era um evento que deveria ser respeitado e fizemos assim. Foi um show de rock? Stones é cultura? Era um tipo de respeito que hoje, provavelmente com uma disputa mais acirrada, tende a se perder.” Em resumo, diz: “Temos espaço, talentos, mas dependemos de quem decide”. Mas também suspira: “Programação é um jogo duro!”
27 de janeiro de 2010
Globo poderia arriscar mais em programas de qualidade, diz Boninho
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