A esta altura do campeonato, todo mundo já sabe que “reality show” tem muito mais a ver com show do que com realidade. No caso de “A Fazenda”, tanto o diretor, Rodrigo Carelli, quanto o apresentador, Britto Jr, já deixaram isso bem claro ao se referirem ao conjunto dos participantes do programa como o “elenco” – palavra, como se sabe, que designa “o conjunto de artistas ligados a um espetáculo ou a uma companhia”.
Na comparação com um reality show formado apenas por anônimos, como o BBB, o confinamento de um grupo de pessoas conhecidas, com experiência na exibição pública da própria imagem, sempre corre o risco de transmitir de imediato a sensação de que tudo é encenado. Ao mesmo tempo, apresenta a vantagem de produzir no público empatia ou antipatia mais rapidamente.
Pois “A Fazenda”, nas duas primeiras edições, não usufruiu do bônus e exibiu apenas o ônus de ser formada por famosos. Por culpa dos participantes escolhidos – e de quem os escolheu – o programa patinou. Com exceção de Theo Becker no primeiro e Igor Cotrim no segundo, o reality não conseguiu esconder o jeitão de teatro infantil canhestro, formado por atores com alguma técnica, mas carisma zero.
A redenção, tudo indica, chegou nesta terceira edição. Depois de oito dias, o programa lembra o maior sucesso já exibido no Brasil neste formato, o primeiro “Casa dos Artistas”, que Silvio Santos colocou no ar subvertendo o formato, sem pagar os devidos royalties, do “Big Brother”.
Os 15 participantes compõem uma fauna de enorme potencial para a diversão noturna na tevê aberta. “Estão confundindo vida real com vida irreal”, disse nesta terça-feira Sergio Mallandro, mestre maior na arte de fazer rir provocando vergonha em que o assiste.
Com capacidade semelhante, Monique Evans já chorou, gritou, xingou, rodou a baiana e divertiu muito a todos nestes primeiros dias. Com a sutileza de um elefante, suas tiradas estremecem o ambiente “Gente, tem que procurar no bumbum da Melancia. Tá sumindo muita coisa. O tênis, a toalha”, disse dia desses. Em resposta, Andressa Soares, a mulher-fruta, arrebitou sua espantosa melancia, mostrando que não escondia nada lá.
Correndo o risco de cometer injustiças, mas sem querer me alongar demais, também chamo a atenção, por ora, para Geisy Arruda, a moça que popularizou o método de ensino da Uniban. Numa discussão com a modelo conhecida como Piu Piu, Geisy disse que a rival vive em função do corpo, e garantiu que ela não poderá fazer isso por muito tempo. Ao que a moça respondeu: “Pelo menos o corpo eu tenho de bom”.
Há outros grandes personagens em cena no reality da Record, como o roqueiro Tico Santa Cruz, a drag-queen Nany People e o ex-jogador Viola, que têm dado pequenos shows. Britto Jr., diante deste elenco, quase não aparece – outra qualidade do programa. Para quem gosta de bobagem, humor involuntário e baixaria comedida, “A Fazenda 3”, até agora, é só alegria.
Caso Monique Evans seja a escolhida pelo público para sair nesta quinta-feira, rogo à direção da Record que deixe o espírito de Silvio Santos baixar de vez na “Fazenda” e envie a moça de volta ao programa, como o criador do SBT fez com Alexandre Frota.Mauricio Stycer
Crítico do UOL
Crítico do UOL
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado! E comente a vontade!!!!