6 de julho de 2009

O silêncio depois da morte

  • "Quase tudo o que amávamos em Michael estava nos videoclipes e nos programas de TV"
A MORTE de Michael Jackson impôs ainda mais silêncio ao que já cercava sua figura.
No dia em quem morreu, enquanto o jornalismo online e televisivo corria feito barata tonta atrás dos fatos, as únicas imagens eram parcas e frias -uma ambulância, um helicóptero, um ataúde. Depois, é claro, havia todo o carnaval rememorativo dos arquivos -os memoráveis videoclipes, as estranhas aparições, o enigma do rosto.

O rosto de Michael, transfigurado do menino bonito que cantava sorrindo à máscara mortuária que exibia ainda em vida, tomou telejornais e programas. MJ era um artista da imagem e seu corpo, o principal suporte de sua obra. Foi disso que ele morreu, o quinto dos Jackson 5, aos 50 anos, prestes a iniciar uma turnê de 50 shows.

A autópsia, quando concluída e se, de fato, vier à luz, pode revelar mais ou menos drogas lícitas, mais ou menos fragilidades físicas, mas não conseguirá falar mais do que tudo o que já sabemos de sua vida atormentada.

Diante do silêncio das histórias e das notícias, especula-se, analisa-se, chuta-se e, sobretudo, reitera-se. Foi esse o tom, em geral, da cobertura, com exceção da MTV, que praticamente silenciou no dia da morte. Quem procurasse a MTV, o canal inventado para mostrar a música pop, que deve quase tudo a Michael (e Madonna), para ver no mínimo os clipes na íntegra, teve de tirar o cavalinho da chuva. Nada. Nos dias seguintes, a MTV até que se aprumou, exibindo especiais no final de semana, mas o silêncio foi chocante.

Quase tudo o que amávamos em Michael estava nos videoclipes e nos trechos de programas de TV, antes da existência dos videoclipes. A criança bonita de roupas extra cool que cantava "ABC" (tão fácil como 1,2,3/tão simples como dó, ré, mi) e dançava "como um cafetão", no ótimo achado de André Forastieri aqui mesmo na Folha. O cafonérrimo, mas alegríssimo, clipe da brilhante "Don't Stop "Til Get Enough", hit máximo de pistas de dança até hoje, feito na época em que Michael ainda sorria. Os clipes-arte dos discos "Thriller" e "Bad". E, mesmo quando Michael já era uma entidade pop estranhíssima, dos anos 90 em diante, ainda assim emanava uma força maluca quando encarnava o personagem de si mesmo para apresentar sua música para o mundo via televisão.
Enquanto esta coluna é escrita, aparecem as últimas imagens de MJ em ação, em ensaios para a turnê "This is It" (ou é isso aí, em tradução livre). Vemos um sujeito magro e cansado.
É isso aí. O resto é imagem

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